sábado, 4 de janeiro de 2020

Sátira à intensidade

Àquela que nos faz sentir sem ponderar
Que nos faz iludir sem a garantia do apalpar
Um sonho que nos leva pro mais infinito
e nos distancia do terreno

A intensidade desafia a gravidade!
Nos faz flutuar apaixonados sem nem imaginar
a queda a qual certamente nos aguarda
De tão ingênuos caímos em suas promessas
e alimentamos nossos delírios mais recônditos do ser

Por que então, caros, sermos intensos
se apegados à realidade podemos nos fixar?
Poderia o realístico um poema como esse potencializar?
Poderia eu escrevê-lo sem deixar pela intensidade poética me levar?

A própria sátira à intensidade é intensa
Hipocrisia é a minha odiar a intensidade
se é ela que move meu ser poético
Hipocrisia maior é satirizar a intensidade
devido a um coração intensamente partido.


                                                                                                                                Julia Lima
Imensidão Oceânica de mim

Imensidão oceânica de mim
Tento controlá-la desenfreadamente
Em minhas mãos, do meu jeito, sob a minha ordem
E ela ri escancaradamente das minhas falhas tentativas

É como despejar uma porção de areia no balde da praia
e fazer seu castelo ali mesmo
Mas aí lhe pergunto: fazemos castelos de areia em baldes?

A graça é utilizar a imensidão da areia a seu favor
usar a água salgada da praia para melhor moldar seu castelo
Sair em busca das mais variadas conchas para enfeitá-lo
E deixar que o vento natural da maré o seque

Então por que nós, seres humanos
queremos tudo em nossa vida controlar?
Se nem amanhã encontro garantia em respirar?

Que façamos nossos castelos na imensidão
das incontáveis areias da praia
Submetendo-nos à natureza e seu inexplicável fluxo natural
Não há sentido em se contentar com a limitada caixa de areia
uma vez que se tem a praia inteira como possibilidade de construção

Imensidão oceânica de mim,
Não mais te controlar irei
Devo, pois, ser induzida pelo seu fluxo
Ornamentando-me com o que eu achar no caminho
Ao sentir a brisa da sua condução
Construir-me-ei em constante desconstrução.

                                                                                                                                Julia Lima