sábado, 24 de maio de 2014

A particularidade como incômodo

        A beleza perdeu o seu real sentido. Hoje, esta é atrelada às palavras "padrão" e "senso comum", as quais desqualificam exacerbadamente o conceito de beleza. Aliás, me atrevo a me contradizer (afinal, o ser humano é ao mesmo tempo ambíguo e contraditório):  não existe conceito na ou para a beleza, pois ela não pode ser simplesmente delimitada a um mero conceito. O caro leitor deve estar se perguntando: a beleza é, então, a diversidade? Não, dizer isso seria, mais uma vez, cair no senso comum. A beleza é criação. O significante ato de criar é o que decodifica a beleza. "Mas criar o quê?", a particularidade. Isso é uma das coisas que me fascina na mente humana, a capacidade individual de criar um modelo particular de beleza. Aquilo que é belo pra mim, pode não ser pra você e aquilo que é belo pra você, pode não ser pra ele. Seguindo essa forma de pensamento, a beleza se eternizaria, pois toda particularidade teria o seu admirador. Mas não, a sociedade precisa encontrar uma forma de tornar a particularidade obsoleta, criando padrões que se transformam sucessivamente e repentinamente. Contudo, a pior parte é que nós nos aderimos a esses padrões, desmerecendo, assim, o nosso potencial de criação e a nossa própria particularidade humana. Dessa forma, não somos mais criadores, e sim seguidores sustentando nosso lixo em prol do "status social". Portanto, meu caro leitor, uma dica que deixo, com zelo: não caia no senso comum de ser comum, o belo é o particular e o particular é o autêntico. A beleza se caracteriza pela excentricidade, pelo esquisito, pela irregularidade e, na maioria das vezes, pelo incômodo. Seja esse incômodo, seja belo.


                                                                                                                      Julia Lima

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dualidade Espiral

    Espiras Encaracoladas,
    quanto mais as vejo, mais me fascino.
    Sorriso cativante,
    faz de minha razão seu domínio.

    Odeio a dualidade de seu pensamento
    e a falta de premissas sobre o ser
    pelo qual me rendo.
    O que me liga a você são as espiras,
    aquelas sim, fiéis para toda a vida.
    Você, no entanto, me leva à ira,
    ao desespero,
    ao pranto,
    ao meu travesseiro.

    Sou forte, afirmo.
    Sou fraco, reprimo.

    Oh, minhas espiras!
    Tão minhas quanto minha razão.
    Oh, meu amor!
    Tão meu quanto uma estrela na mão.

                                              Julia Lima

sábado, 10 de maio de 2014

Angélica

    Lá está ela, dormindo em sua cama
    Sempre com o seu urso de pelúcia:
    O charme de uma criança.

    Suas pernas encurvadas
    Revelam os finos e discretos pelos.
    Sua curvatura estontuosa,
    enfatiza meu desejo.

    Os lábios entreabertos sugerem um convite.
    Mas, sei que se a beijasse, aqui e agora,
    apenas aguçaria meu apetite.

    Contudo, não posso toca-la, nem senti-la.
    Sou tese e não antítese.
    Não há como negar:
    Sou designado para isso, fui feito para isso.

    A dourada auréola me confirma.
    A proteção obsessiva me reluz.
    A aconchegantes asas me reafirmam
    aquilo que eu aprendi com a Luz.

    Tese e não antítese,
    sou afirmado e não negado.
    Tese
    Tese
    Tese
    Porém, o que seria a vida sem o escapismo da síntese?


                                                                        Julia Lima

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Independência Arciforme

    Sonetos e suas linearidades
    mistos ao superficialismo da descrição
    de nada revelam, estarrecidos em si
    Equivalem ao perfeito decassílabo
    erroneamente desejado,
    ao olhar escorrido nunca firmado.

    A tortuosidade dos versos livres
    a firmeza flexível da arte engajada
    equivalem ao olhar ansiado,
    prudentemente encoberto pelas próprias espirais
    que, quando revelado,
    transforma o mundo ourivesado.

    Como não notar a sua diversidade circundante?

    E ainda há aqueles que creem 
    que a derrapante capiliformidade 
    seja superior às espiras encaracoladas.



                                               Julia Lima