quarta-feira, 22 de julho de 2015

Desenférrujar

        Falar de dinheiro dentro da Igreja não é fácil, requer muito zelo e cautela. Não acredito que, como cristãos, não devamos falar de dinheiro, muito menos falar exageradamente. O debate se faz necessário e o saber debater também. Porém, há discursos dentro da Igreja que não me agradam: são carregados de intenções e interesses, tornando seu fundamento superficial e ilegítimo. Há ainda aqueles executados em forma de pregação, seguidos de um apelo ao final, o qual estimula o membro a ofertar e dizimar, pois se sentiu tocado emocionalmente com tal palavra. Pregações indutivas não me tocam, me cansam.
        Não é meu intuito aqui obrigar os caros leitores a entenderem que tais atitudes são erradas e não devem ser feitas, mas apenas deixar claro que eu não concordo. Hoje, a mentalidade igrejista entende o dízimo como uma obrigação, "os 10% de todo o mês" ou " o meu dever para com o Senhor". Exteriorizamos nossa oferta a uma estrutura que necessita de quem a sustente: a Igreja; no entanto, nem sempre foi assim. Em vista do cristianismo primitivo, a oferta dada pelos cristãos era coletada e distribuída àqueles que muito pouco ou nada tinham, de forma que estes irmãos fossem ajudados e que todos pudessem se encontrar em igual situação, assim, um não se prevaleceria sobre o outro. Era uma prática interessante, pois potencializava o amor, convívio e a preocupação com o próximo, contudo, difícil de ser executada nos dias de hoje.
        O dízimo é pautado na oferta, esta que deve ser entregue em benefício do próximo. A oferta é espontânea, sincera e revela a sensibilidade do cristão quanto à Palavra. O dízimo também é uma consequência da oferta, caso o indivíduo queira tornar tal exercício uma prática constante, que fique à vontade. Agora, a oferta/dízimo se resume ao dinheiro? De forma alguma. Acima de tudo, o dízimo é estar disposto à amar e ajudar o próximo. Dessa forma, dar comida àquele que passa fome é dízimo, cobrir àquele que passa frio na rua é dízimo, ajudar o enfermo é dízimo, chorar com o que chora é dízimo, se alegrar com o que se alegra é dízimo... Tal entendimento se faz essencial para aqueles que desejam viver o verdadeiro evangelho.
        Portanto, caros, que não nos apeguemos ao imaginário automático que nos calcifica e acomoda. E, menos ainda, aceitemos o que nos falam sem questionar a veracidade de tal discurso. Que, antes, debatamos e busquemos a verdadeira compreensão baseada nos princípios da Bíblia, ou seja, que nos voltemos a mensagem que nela há e não a doutrina a qual é interpretada por nós. O Deus que me toca é O que pode ser pensado, jogado contra a parede, moído, questionado e racionalizado. Caso contrário, qual a graça de se ter fé?


Julia Lima

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